JP Trainer: das batidas da percussão ao ritmo da corrida de rua

“Negro, amante das batidas de percussão”. Seus cabelos rastafári são um símbolo de ancestralidade, motivo de tanto orgulho. “Mudança de estilo que reforça a ideia de que sou negão mesmo”, explica. Este é João Paulo França. Nascido em 15 de março de 1984, em Salvador, foi criado no bairro da Mussurunga. “Foi lá que nasci e desenvolvi meu conhecimento na área de Educação Física. Aprendi muito do que sou hoje nesse bairro”, lembra.

Atualmente, João Paulo é treinador da assessoria esportiva Runners Club, especializada em corrida de rua. Tornou-se bastante conhecido pelo famoso “Aquecimento de Milhões”, trabalho realizado antes das provas que combina os movimentos das corridas com as batidas percussivas da música baiana.

Em entrevista ao Bahia Run 360, “JP Trainer”, como é conhecido, falou sobre seu trabalho, o mercado da corrida de rua e compartilhou dicas tanto para corredores experientes quanto para quem pretende se aventurar nas pistas.

1. Quem é João Paulo França e como ele iniciou sua trajetória na corrida de rua?

Sou João Paulo França, mais conhecido como JP Training, treinador na assessoria Runners Club e especializado em corrida de rua. Fiquei bastante conhecido.Atuo há quatro anos no universo da corrida de rua, trajetória iniciada ainda na faculdade.

Tenho me destacado por meio dos resultados dos meus alunos, aplicando treinos de fortalecimento voltados para provas de diferentes distâncias — desde corridas curtas até meias e maratonas.

Também desenvolvemos um trabalho de reabilitação, auxiliando atletas no retorno às pistas com exercícios específicos para fortalecer e prevenir novas lesões. Hoje, sigo crescendo no mercado junto com a equipe do Método Chokito, levando mais saúde, performance e motivação aos corredores.

2. Como o esporte sempre fez parte da vida de João Paulo e o que o motivou a seguir Educação Física?

O esporte sempre esteve presente na minha vida desde a infância. Na escola, jogava futebol e disputava torneios de futsal e society.

Cheguei a integrar a divisão de base do Galícia, além de praticar capoeira e lutar MMA. Sempre tive o esporte como rotina.

Muitas pessoas já me diziam que eu deveria cursar Educação Física, pela minha vontade constante de estar em movimento e de incentivar os outros a treinar. Na época, já era formado em Administração, mas decidi seguir esse conselho — e foi a profissão que mudou a minha vida. Hoje sou pós-graduando em biomecânica e reabilitação de lesões e tenho buscado cursos para aprimorar o entendimento sobre as possíveis lesões dos corredores, além de desenvolver o fortalecimento adequado para melhorar a performance e prevenir problemas.

Minha história com a corrida de rua começou na faculdade, quando fui aluno do professor Chokito.

Já no segundo semestre, pedi para ser estagiário da Runners. No início, a corrida surgiu como curiosidade: queria entender as nomenclaturas, como pace, zonas de treino e vias metabólicas. Mas, com o tempo, se transformou em paixão.

3. Qual foi a trajetória de João Paulo dentro da Runners e como ele inovou nos treinos?

Iniciei na Runners como estagiário, na hidratação. Teoricamente, seria um posto pouco valorizado, mas consegui extrair o melhor dessa função: observar os alunos. Assim, pude perceber quem estava bem, quem sentia algum desconforto e quem estava cansado. Foi um setor estratégico, que me deu identidade dentro da Runners. Depois da hidratação, passei para o aquecimento nos eventos internos. Ali, pude evoluir bastante. Transformei aquele aquecimento tradicional — só alongamento e música eletrônica — em algo novo, inspirado em exercícios educativos usados por corredores quenianos, adaptados à nossa realidade. Assim nasceu o setor de treinos educativos da Runners.

No aquecimento, também inseri ritmos baianos, unindo movimentos da corrida à batida da música e à dança. Foi algo tão diferente que ganhou o apelido de Aquecimento de Milhões, dado por Chokito, porque, quando as pessoas viam que era o meu aquecimento, faziam questão de participar.

Esse marketing de que basta ‘colocar o tênis e correr’ não é real. Todo corredor — independentemente da distância ou da intensidade — precisa de fortalecimento específico para a corrida de rua. Há treinos voltados para potência, velocidade, mobilidade e trabalho neuromuscular, que devem ser parte da rotina.Meu objetivo é entender a meta de cada aluno e me tornar seu aliado.

Na Runners, temos um olhar clínico para identificar essas metas e individualizar o trabalho.

A maioria dos iniciantes não tem muita vivência com a corrida, então procuramos, de forma didática, mostrar como se adaptar e fazer da corrida de rua uma aliada para a saúde, o bem-estar e a socialização.

4. Como João Paulo motiva seus alunos e contribui para a transformação pessoal por meio do esporte?

Sempre gostei do esporte, e lidar com atletas é algo fantástico. Você aprende a interpretar sinais que eles trazem — de ansiedade, cansaço, vontade de superar marcas… E é isso que levo para os meus alunos. Quem acompanha meu Instagram percebe que sou ligado no 220 volts, cheio de energia.

Procuro extrair o melhor de cada um, acreditando no seu potencial e dando aquela injeção de ânimo. Com a rotina, é normal perder confiança e desanimar, então busco resgatar o melhor de cada um no momento do treino.

Uma das minhas missões é salvar vidas por meio do movimento. Tenho um exemplo disso em um grupo formado na Academia Estação Fitness, onde estagiei, no bairro de Mussurunga. Recebi elogios de diversos alunos pela transformação que viveram e por compreenderem que têm capacidade de oferecer mais: força, vitalidade e disposição, independentemente da idade ou do gênero.

5. Qual é a visão de João Paulo sobre o crescimento da corrida de rua e a importância da multidisciplinaridade?

A corrida de rua vem ganhando grandes proporções e atraindo grandes marcas que, mesmo não sendo do segmento esportivo, investem no esporte para oferecer seus produtos ao público. É muito bacana ver esse crescimento, mas ainda representamos uma parcela mínima da população ativa.

Existe um universo enorme de pessoas sedentárias que precisam se movimentar com responsabilidade, orientadas por profissionais credenciados e qualificados para entender suas necessidades.

A corrida exige bastante dos alunos, principalmente por demandar mudanças de hábito, como dormir mais cedo, melhorar a alimentação, escolher o material adequado para correr e comprar um tênis que realmente traga benefícios — não apenas pela marca, seja ele o mais caro ou o mais barato.Nem todo aluno entra na corrida buscando performance. Alguns, com o tempo e a evolução, se transformam em atletas de alto rendimento.

Porém, muitos têm receio de dar esse passo, mesmo com potencial, por falta de apoio psicológico. Há quem não saiba lidar com frustrações, e por isso indicamos buscar terapia esportiva. Hoje, conseguimos realizar um trabalho multidisciplinar, envolvendo fisioterapia, medicina esportiva, psicologia e outras áreas, para oferecer um acompanhamento completo.

6. Que recomendações João Paulo dá para corredores iniciantes?

Uma dica para os corredores iniciantes: nem sempre o melhor tênis é o mais indicado para você. Não é o tênis que vai transformá-lo em um atleta de performance, e sim a constância dos treinos. Por isso, procure uma assessoria e um profissional que entenda de corrida de rua para elaborar um treino individualizado.

Alguns erros comuns de quem está começando incluem: usar suplementos não testados antes da prova, estrear um tênis no dia da corrida ou utilizar roupas inapropriadas. Tudo isso pode comprometer seu desempenho. O ideal é se preparar com antecedência: verificar a roupa adequada, testar o tênis nos treinos para ver se ele é compatível com seu peso e tipo de corrida e, se for usar suplementos, experimentar antes em treinos para entender como seu corpo reage.

egra de ouro: nunca use tênis novo em uma prova. Se a corrida é no domingo, não compre o tênis no sábado. Treine com ele antes e só use na prova se sentir segurança e conforto.Por fim, antes da corrida, faça um aquecimento com exercícios educativos e de mobilidade, preparando as articulações e o corpo para a atividade. Apenas alongar não é suficiente — é preciso preparar o corpo para o movimento da corrida, garantindo melhor desempenho e prevenindo lesões.

7. Quais são os planos futuros de João Paulo para a Runners e sua especialização profissional?

Um dos meus planos para o futuro é ampliar o número de alunos de consultoria dentro da Runners. Hoje, contamos com mais de mil alunos, e venho estudando e me especializando para atender cada vez melhor esse público. Temos realizado trabalhos de aquecimento também em alguns eventos que não são da Runners, mas a preferência é sempre pela equipe. Antes, converso com o Chokito para garantir que não haja conflito com nossa agenda. Atualmente, a Runners e o Método Chokito também organizam corridas como a do Vitória, do Bahia, da Salvador FM, além de eventos corporativos. Neste mês de agosto, estarei em São Paulo para realizar cursos complementares na área de biomecânica, buscando ampliar meu conhecimento e oferecer um serviço ainda mais qualificado aos meus alunos.

8. Como João Paulo se comunica com os corredores e compartilha seu trabalho online?

Queridos corredores, é sempre muito bom encontrar vocês nas pistas, receber mensagens de incentivo e tirar dúvidas. A corrida é um universo que pode ser expandido e vivido por toda a família.

Vamos com responsabilidade, assiduidade e frequência, mostrando que fomos feitos para nos movimentar — independentemente de idade, gênero ou condição física. Correr sempre proporciona momentos felizes.

No meu perfil (@joaopaulutrainner), compartilho meu trabalho, mostrando e explicando a importância de cada exercício, com vídeos e fotos dos meus treinos. O objetivo é ensinar como fortalecer, melhorar a performance e evitar lesões, prevenindo erros comuns.Já no perfil @aquecimentodemilhoes, concentro os registros e eventos dos quais participo.