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Das Águas de Periperi ao Mundo: a história do triatleta e treinador Fábio Cuba

  • Foto do escritor: Tiago Queiróz
    Tiago Queiróz
  • 16 de out.
  • 4 min de leitura
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Foi das águas cristalinas do subúrbio de Salvador que surgiu o talento do premiado triatleta e treinador Fábio Ramos, mais conhecido como Fábio Cuba. Nascido em 17 de novembro de 1980, ele cresceu na região da Cidade Baixa, no bairro de Periperi, onde passou toda a juventude.


“Podemos dizer que tivemos infância, né? Eram outros tempos — brincar na rua, empinar pipa, jogar gude, brigar na mão (risos)... Eu jogava bola, fazia karatê e tive meu primeiro contato com a natação aos 12 anos. Foi quando me apaixonei. Ali descobri o esporte que, sem saber, mudaria a minha vida”, relembra Cuba.

A estreia nas competições aconteceu em 1997, quando um tio o convidou para participar de uma travessia de 4 km.


“Topei o desafio e terminei a prova em penúltimo lugar. No mesmo ano, fui aprovado na equipe de natação da Vila Olímpica, na Fonte Nova, e comecei a treinar com mais dedicação. Lembro que prometi ao meu tio que voltaria no ano seguinte e venceria a travessia. Mesmo enfrentando muita dificuldade financeira para o transporte, continuei firme nos treinos. Em 1998, cumpri a promessa: voltei e ganhei a prova, no primeiro lugar geral. Ali tudo começou a mudar.”

Cinco anos depois, em 2003, Fábio já cursava Educação Física em uma universidade particular de Salvador, mas enfrentava dificuldades para arcar com as mensalidades. As aulas de natação que ministrava na região do subúrbio mal cobriam as despesas básicas. Foi então que o destino tratou de intervir — e mudar sua vida de forma definitiva. O destino? Cuba!


“Naquela época, estávamos passando por uma situação financeira muito difícil, devendo todo o pagamento do semestre. Um dia, voltando para casa, resolvi parar na casa dos meus avós para tomar um café, porque em casa não tinha nada. Eu morava com meu irmão, éramos filhos de pais separados. Chegando lá, encontrei meu pai, que eu não via há meses. Ele estava com um jornal nas mãos, e a manchete dizia: ‘Um baiano terá a oportunidade de estudar em Cuba Educação Física e praticar esporte’. A partir dali, participei de uma seleção com mais de 30 candidatos — e fui aprovado.”
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Sobre o legado da experiência na terra do comandante Fidel Castro, Fábio destaca:


“Cuba me oportunizou ser quem sou. Mesmo diante das dificuldades que enfrentei lá, foi uma experiência inesquecível. Aproveitei cada minuto estudando e treinando — foi lá que descobri o triathlon. Fui dado a oportunidade e agarrei tudo o que podia. É uma história longa e muito interessante... poderia passar dias escrevendo sobre isso”, brinca.

A transição da natação para o triathlon aconteceu de forma inesperada:


“Quando cheguei em Cuba, em 2003, fui nadar e o treinador de triathlon da universidade me convidou para experimentar, mas eu não tinha bike. Peguei uma MTB com um amigo de quarto e dei início à transição… e daí foi só paixão”, lembra.
“Levo comigo força, determinação, disciplina, valores, lealdade e superação. Tudo o que vivi em Cuba serve tanto para minha vida pessoal quanto para minha formação como treinador. Mesmo com limitações de tecnologia e nutrição, os cubanos nunca desistiam. Foi isso que me marcou. ‘Retroceder nunca, render-se jamais’ — esse passou a ser meu lema”, acrescenta.
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Hasta la vista, Cuba — Antes de retornar aos mares da Bahia, Fábio passou por Portugal, onde fez mestrado em Ciência do Desporto. Já como treinador, foi convocado para integrar a seleção brasileira de triathlon.


“Aos 18 anos, quando comecei a dar aulas de natação em um clube pequeno de Periperi, percebi que era aquilo que queria para a vida. Foi paixão à primeira vista”, relembra.

Três décadas depois, seu currículo é a prova de uma trajetória de sucesso:


“Tive o privilégio de representar o Brasil como treinador nas Olimpíadas de Nanquim, fui eleito mais de seis vezes o melhor treinador de triatlo da Bahia, recebi o Prêmio Brasil Olímpico como melhor treinador de paratriatlo e fui reconhecido como o quinto melhor treinador de paratriatlo do mundo. Mas, acima de todos os títulos, considero minha maior conquista poder cuidar da saúde e do bem-estar de centenas de pessoas por meio do esporte. Hoje, trabalho com mais de 300 atletas amadores, transmitindo tudo o que aprendi ao longo da minha trajetória.”
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Assessoria Esportiva — A Cuba.Swim.Bike.Run surgiu cinco anos após o retorno de Fábio Cuba ao Brasil, quando ele finalizou uma sociedade anterior. No início, o crescimento foi lento, especialmente porque ele também estava envolvido com a Seleção Brasileira.


“Começou com apenas eu e outro treinador — hoje meu braço direito, Tiago Alves — e, aos poucos, foi se tornando uma grande prioridade em minha vida. Atualmente, a Cuba é minha total dedicação: vivemos intensamente cada treino, cada conquista, cuidando da saúde, da vida e dos sonhos de nossos atletas. Hoje, acreditamos ser a maior assessoria esportiva da Bahia, com presença em mais de oito cidades e até em dois países.”
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Que mensagem deixaria para jovens de comunidades que, como você, enxergam no esporte uma chance de transformação?


“O esporte é um caminho transformador para o futuro, mas esses jovens muitas vezes não recebem o incentivo necessário. É preciso criar oportunidades para que eles descubram o esporte, porque as informações e possibilidades não chegam à periferia da mesma forma que chegam a outros bairros. Estar próximo de pessoas que possam orientar e apoiar nessa caminhada faz toda a diferença, e é isso que pode abrir portas e mudar trajetórias.”

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