Corredores alertam para falta de segurança nas ruas da capital baiana
- Tiago Queiróz
- 20 de ago.
- 4 min de leitura

Uma onda de angústia e indignação tomou conta da comunidade de corrida de rua em Salvador após o grave acidente registrado na manhã do último sábado (16), no bairro da Pituba. A vítima foi o corredor Emerson Pinheiro, de 29 anos, que teve uma das pernas amputada após ser atingido por um carro que invadiu a calçada nas imediações da Arena Aquática Salvador.
O atleta segue internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Geral do Estado (HGE). O caso acendeu o alerta para as condições de segurança dos corredores que utilizam as ruas da capital baiana para a prática esportiva.
Para o professor e empresário do segmento, Jardel Moura, "a estrutura oferecida pela cidade para a prática da corrida de rua não acompanha o crescimento do número de corredores":
"Em alguns trechos da orla de Salvador, quando grandes grupos correm em sentidos opostos, o espaço se torna tão estreito que a circulação fica comprometida. A impressão é de que a cidade não foi planejada para comportar um fluxo tão grande de pessoas praticando atividade física. Hoje, apenas alguns pontos realmente conseguem atender à demanda, como o calçadão do Centro de Convenções, o novo calçadão da Boca do Rio, Patamares e a Barra. Nos demais locais, as condições são muito limitadas. A questão vai além da mobilidade viária: falta, de fato, uma estrutura adequada de pistas de cooper.”
Ainda segundo Jardel, "a questão da imprudência de motoristas é muito gritante na cidade, sobretudo nos finais de semana":

“Infelizmente, muitas vezes acabamos correndo no asfalto, porque é um local melhor do que o concreto. Mas aí enfrentamos motoristas de ônibus que jogam os veículos para cima da gente, sem respeito algum. Existe uma questão cultural na cidade: os motoristas não respeitam nem os corredores nem os ciclistas. Quando essa falta de respeito se soma à imprudência, ao consumo de bebida alcoólica e ao excesso de velocidade, a situação fica ainda mais grave. Acreditamos que a mudança não passa apenas pela punição dos envolvidos, mas também por um trabalho de conscientização para garantir uma convivência pacífica entre atletas, corredores, ciclistas e a cidade. Estamos consternados por tudo o que envolve o ocorrido."
Para o professor e CEO do Runners Clube — assessoria esportiva, Carlos Felipe Albuquerque, ou Chokito, como é conhecido, alguns cuidados devem ser levados em consideração pelos atletas:
"Salvador tem quase 42 km de orla, onde ciclistas, pedestres, patinetes e corredores dividem o mesmo espaço — em alguns trechos, até com carros. Isso exige do corredor atenção, empatia e respeito. É importante observar aspectos como evitar o uso de fones de ouvido, cuidar do ritmo da corrida, não correr em grupos maiores que três pessoas, sinalizar ultrapassagens com palmas e manter-se sempre dentro da ciclofaixa", explica.

"Quando falamos de segurança pública, correr em grupo pode ser mais seguro, principalmente para as mulheres. Já no aspecto de evitar acidentes, acredito que, pela limitação dos espaços, o ideal seja correr no máximo em dupla", acrescenta.
Ainda segundo Chokito, com o aumento dos praticantes de atividades esportivas, "torna-se fundamental pensar em novas estratégias de mobilidade urbana":
“É necessário construir estratégias em conjunto com todos os órgãos e associações dos segmentos, para que possamos definir a melhor forma de intervenção e atuação.”
Atletas em alerta — O acidente que envolveu o atleta Emerson Pinheiro gerou preocupação entre corredores que se exercitam na orla e em outras avenidas de Salvador. Para o corredor profissional e professor de Educação Física da MBSports Assessoria Esportiva, Márcio Barreto, as vias da cidade não oferecem segurança adequada aos praticantes.
“Na orla, há espaço para a construção de vias exclusivas para corrida. Alguns estados, inclusive, já contam com trechos demarcados especialmente para corredores. Outra alternativa seria a criação de uma pista de atletismo, que atenderia tanto atletas amadores quanto corredores de alto rendimento”, sugere Barreto.

Ele ressalta ainda os riscos enfrentados pelos corredores:
“Em alguns trechos, é necessário compartilhar espaço com bicicletas. Em outros, há a obrigatoriedade de descer para a rua e dividir espaço com os carros quando a calçada está inacabada ou em obra. No caso do nosso atleta, ele estava cercado por barreiras de concreto. Vias exclusivas para corrida praticamente não existem em nenhum ponto da orla. Temos apenas calçadas, sem qualquer demarcação que indique serem apropriadas para corrida ou ciclismo. Por isso, é muito difícil para grandes assessorias esportivas organizarem treinos em Salvador”.
As observações de Barreto são corroboradas pela também atleta Fernanda Lanza:
“Em Salvador, não existe um espaço específico, uma pista dedicada para os treinos de corrida. Alguns trechos da orla têm espaço para pedestres, mas muitas vezes estão tão cheios que a alternativa que encontramos é correr na pista, nos expondo ao risco de acidentes. Além disso, temos que lidar com o medo dos assaltos recorrentes, principalmente nós, mulheres. Embora eu nunca tenha passado por uma situação de perigo real, sei que estou exposta sempre que saio para treinar. A orla é o principal local de treino dos corredores em Salvador. Alguns trechos foram reformados e ficaram bons, mas outros, como no Rio Vermelho, não oferecem espaço adequado para correr, obrigando-nos a usar a pista de veículos”.

*Fotos dos corredores: Reprodução/Instagram




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